sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Conversando com versos (92): "Almas desoladoramente frias", de Raul de Leoni (1895-1926)



"Almas desoladoramente frias"
Raul de Leoni

Almas desoladoramente frias
De uma aridez tristíssima de areia,
Nelas não vingam essas suaves poesias
Que a alma das cousas, ao passar, semeia...

Desesperadamente estéreis e sombrias
Onde passam (triste aura que as rodeia!)
Deixam uma atmosfera amarga, cheia
De desencantos e melancolias...

Nessa árida rudeza de rochedo,
Mesmo fazendo o bem, sua mão é pesada,
Sua própria virtude mete medo...

Como são tristes essas vidas sem amor,
Essas sombras que nunca amaram nada,
Essas almas que nunca deram flor...

Fonte: Leoni, Raul de. Luz Mediterrânea.9ª ed. São Paulo: Livraria Martins,1959, p.115

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Prisioneiro da base parlamentar, governo tende a caminhar para mais do mesmo, entrevista com Chico Alencar



Escrito por Gabriel Brito e Valéria Nader


Após a tensa disputa eleitoral que deu novo mandato presidencial a Dilma Rousseff, o país começa a olhar para frente e vislumbrar as novas correlações de forças. Ante um Congresso altamente conservador que assumirá o legislativo, diversos atores e analistas políticos vêm afirmando a necessidade de se aumentarem as pressões das ruas nos governos. Sobre este novo período, o Correio da Cidadania conversou com o deputado federal Chico Alencar.

“Parece-me que a política institucional brasileira vive crise similar à do nosso futebol. Isso se fortaleceu em mim depois de assistir a este último 'Fla x Flu', no estádio/estúdio da Globo. Os conflitos sociais, o papel do Estado na sociedade, e ao longo das etapas do desenvolvimento brasileiro, passaram longe. As divergências na campanha foram muito mais retóricas do que reais”, afirmou.

Para Alencar, é evidente que o novo governo Dilma tem tudo para aprofundar a fórmula de governabilidade dos últimos anos, afirmação que faz elencando uma série de pautas políticas relevantes que ficaram praticamente excluídas dos debates, inclusive do segundo turno. Em sua visão, fica claro para os movimentos e setores à esquerda (importantes na vitória petista) que não há a mínima condição para ilusões.

“Ao falar de referendo, Dilma faz, indiretamente, um chamamento para que a sociedade e as instâncias de representação debatam a profunda crise da representação, o patrimonialismo, o clientelismo, a subrepresentação das classes trabalhadoras e as formas que reproduzem um modelo desgastado. A democratização dos meios de comunicação não apareceu na campanha porque as forças hegemônicas, no governo e na oposição conservadora, não têm interesse”, concluiu.

A entrevista completa com Chico Alencar pode ser lida a seguir.


Correio da Cidadania: Primeiramente, como você analisa a vitória de Dilma neste domingo, com a margem de votos mais estreita dos últimos tempos?

Chico Alencar: Parece-me que a política institucional brasileira vive crise similar à do nosso futebol. Isso se fortaleceu em mim depois de assistir a este último 'Fla X Flu', no estádio/estúdio da Globo. Os 'craques' Dilma e Aécio perderam vários 'gols feitos', talvez por orientação dos 'técnicos' – os marqueteiros, sempre mais voltados a 'vender o produto/candidato para o consumidor/eleitor'.

Em nenhum momento do debate houve menção à estrutura de classes e à desigualdade social estrutural – que até o badalado e atualíssimo livro "O capital no século XXI", de Thomas Piketty, tanto destaca. As referências históricas, que considero sempre importantes, restringiram-se à comparação entre governos tucanos e petistas, por Dilma, e ao elogio laudatório ao avô, por Aécio.

Os conflitos sociais, o papel do Estado na sociedade, e ao longo das etapas do desenvolvimento brasileiro, passaram longe. As divergências na campanha foram muito mais retóricas do que reais.

Correio da Cidadania: Faz algum sentido os setores e partidos que se colocam à esquerda do PT, muitos dos quais apoiaram o voto crítico em Dilma no segundo turno, esperarem uma guinada à esquerda do partido e alguma possibilidade de parcerias políticas?

Chico Alencar: Só se for esperar no sentido 'paulofreiriano', mais para 'esperançar', que é esperança que se constrói na luta. Esperar só de expectativa é outra coisa, mais passiva, advinda de um novo mandato que tem de reavaliar caminhos, até pelo progressivo enfraquecimento eleitoral do PT.

As opções de Dilma, infelizmente, tendem a caminhar para mais do mesmo, 'acalmando o mercado' financeiro, e não apostando nas forças sociais de mudança. Evidentemente, todas as propostas do governo que atenderem aos interesses das maiorias que vivem à margem dos direitos merecerão nosso apoio, como aconteceu no caso do Sistema Nacional de Participação Social, o decreto que a mídia grande deturpou como o que 'criava Conselhos Populares' e o reacionarismo parlamentar derrubou.

O PSOL já apresentou um Projeto de Lei recriando o Sistema, que articula essas instâncias de participação.

Correio da Cidadania: O que podemos esperar do quarto mandato petista no Planalto, ao olhar para a nova configuração do Congresso e para a atual conjuntura econômica nacional e internacional? Como ficarão as pautas associadas aos movimentos populares e progressistas nesse próximo período?

Chico Alencar: Mesmo sem avaliar em profundidade o novo Congresso – todos dizem que, apesar de 49% de novos nomes, ficará mais 'velho' ainda -, é possível inferir grandes dificuldades para o governo tocar as pautas populares. Até porque, reconheçamos, não se comprometeu decididamente com muitas delas.

Alguns exemplos: o questionamento  ao fator previdenciário não incorporou qualquer abordagem do caráter superavitário da Seguridade Social e do desvio dos seus recursos; o enfoque ao tráfico de drogas ilícitas e à violência limitou-se ao aspecto meramente repressivo, não sendo enfatizado o fracasso mundial da política da 'guerra às drogas' e do proibicionismo; na educação, o ensino de tempo integral, a educação de jovens e adultos, a implementação efetiva de planos da carreira e piso salarial nacional para os profissionais da área, a democratização da gestão e as responsabilidades compartilhadas dos entes federativos ficaram secundarizados; sobre a crise hídrica, não se considerou a questão ambiental, o combate ao desmatamento, a recuperação dos rios (ativando seus comitês de bacias) e a garantia legal dos riquíssimos e maltratados biomas brasileiros.

Na política de garantia do emprego, que obviamente tem a ver com o modelo econômico, não se fez qualquer questionamento ao tripé da macroeconomia (superávit primário, juros altos e câmbio flutuante), nem defesa da auditoria da dívida e de uma Reforma Tributária com taxação das grandes fortunas; as menções à agricultura omitiram a Reforma Agrária, o fluxo dos produtos agrícolas, a concentração fundiária e os riscos da absolutização dos agrotóxicos;.

Na política internacional, o 'embate' restringiu-se aos investimentos do BNDES em Cuba (que, ressalte-se, o governo FHC também fez, correta e solidariamente); o unânime e óbvio repúdio à corrupção – que é sistêmica – tornou-se uma 'olimpíada' para destacar quem foi mais conivente com ela, em seus respectivos governos e práticas partidárias; quando se discutiu moradia, limitada a quantas casas populares são necessárias ou foram feitas, faltaram propostas sobre especulação do solo urbano, função social da propriedade, cumprimento do Estatuto das Cidades e (i)mobilidade nas regiões metropolitanas, isto é, transporte de massas.

Correio da Cidadania: E quanto à representação política e contestação do monopólio midiático, assuntos que talvez se possa relacionar mais aos protestos de junho, o que você tem a dizer?

Chico Alencar: Sobre a importantíssima Reforma Política, ressalto que Dilma defendeu a Iniciativa Popular de Lei da OAB/CNBB com suas listas com alternância de gênero e o fim do financiamento empresarial das campanhas – isso é positivo. Ao falar de plebiscito e, agora, de referendo, faz, indiretamente, um chamamento para que a sociedade e as instâncias de representação debatam a profunda crise da representação, o patrimonialismo, o clientelismo, a subrepresentação das classes trabalhadoras e as formas vigentes do fazer político, que reproduzem um modelo dominante e desgastado.

Política Cultural, demarcação de terras indígenas e quilombolas, impactos das grandes obras e avanço nas lutas contras todas as formas de discriminação (com reafirmação da laicidade do Estado) também estão na ordem do dia, e tanto o Executivo quanto o Legislativo - e, em certas situações, o Judiciário - terão que se posicionar sobre essas agendas. A democratização dos meios de comunicação (há Iniciativa Popular de Lei a respeito, a da Mídia Democrática) não apareceu na campanha porque as forças hegemônicas, no governo e na oposição conservadora, não têm interesse nisso.

Correio da Cidadania: Vê no horizonte alguma possibilidade e/ou necessidade de união das esquerdas para enfrentar o próximo período?

Chico Alencar: Vejo essa necessidade, e quero me empenhar para que ela estimule a possibilidade. Dilma está eleita e essas questões CENTRAIS para o país têm que ser enfrentadas. Só que sem mobilização popular não serão! Para não ser mais do mesmo, o governo Dilma II precisa se aproximar dos movimentos sociais. E, estes, dinamizarem sua atuação, apesar das enormes dificuldades.

Se Dilma ficar prisioneira da base parlamentar, não haverá avanço algum. Há o risco de passarmos o ano de 2015 sob a égide das apurações do 'petrolão', que deve fazer muitas cabeças coroadas, de diversos partidos, rolarem...

O papel das esquerdas, além de ressignificar o ideário socialista, que também vive uma crise de sentido, é estabelecer um 'programa mínimo' de lutas comuns, em torno das questões concretas que abordei acima.




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quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Sem luz no fim do túnel! Nem Prefeito envia Mensagem, nem Câmara discute reajuste dos servidores de Rio das Ostras



Nesta quarta-feira, 26 de novembro, ocorreu mais uma sessão legislativa onde os servidores foram ignorados e desprezados, como em outras sessões. Até hoje, não receberam o justo e merecido reajuste salarial. Com data-base por lei estabelecida em outubro, os servidores  estão sem notícias de qual será o índice a ser adotado. Isto, se vier a ser adotado. Ainda não há luz no fim do túnel!


A Câmara Municipal de Rio das Ostras tem primado pelo mutismo — fingindo-se de morta — com raríssimas menções ao problema, quando um vereador da oposição ou outra da situação "lamenta" pela (má) sorte dos servidores. E param aí, nessa fingida lamentação.


Já o Senhor Prefeito, que parece demonstrar pouca aptidão para o diálogo e negociação, se especializou em "chorar miséria" em espaços públicos dos mais diversos.Visa justificar a falta de investimentos e , implicitamente, o não reajuste dos servidores, pondo a culpa numa suposta queda de arrecadação e na má herança da gestão anterior.


Enquanto isso, a Casa Legislativa deixa de cumprir com o seu papel de defender a população, incluindo aí os abnegados servidores municipais, que merecem melhor tratamento, com valorização profissional e salários condignos.


Nesta sessão, se deu um fato raro, exceção que confirma a regra: a aprovação de matéria de relevância para a população. Em segunda votação (a primeira ocorreu em 25/11), foi aprovada a Lei nº1.875/2014 que "institui o sistema municipal de atendimento socioeducativo, nas modalidades de medidas socioeducativas, de liberdade assistida e de prestação de serviços à comunidade, destinado aos adolescentes em conflito com a lei do município de  Rio das Ostras. No entanto, não houve qualquer discussão sobre a temática.


De responsabilidade da Secretaria Municipal do Bem-estar Social (SEMBES), a partir de um trabalho intersetorial, o Plano Municipal Decenal de Atendimento Socioeducativo atende uma exigência da legislação federal, que deu um prazo até 14 de novembro de 2014 para que todos os municípios e estados elaborassem os seus respectivos Planos.


Em Rio das Ostras, o prazo foi cumprido, sendo que o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) teve papel preponderante, atribuído e exigido por lei, de análise e aprovação do referido Plano Decenal. O Sepe local acompanhou, como observador, os trabalhos de apresentação e aprovação final desse instrumento legal. Agora, é preciso sair do papel...



Só a luta transforma a vida!



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quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Às moscas, Câmara Municipal de Rio das Ostras mantém rotina de não pautar o reajuste salarial e desprezar os servidores



Nesta terça-feira, 25 de novembro, ocorreu mais uma sessão da Câmara Municipal de Rio das Ostras, tendo começado, como de praxe, à luz de uma mensagem bíblica (?!) lida pelo Primeiro Secretário — com todos os presentes perfilados.


A sessão seguiu a rotina, com o "primeiro grande expediente" sem pronunciamento dos vereadores. Com exceção de um, que denunciou problemas na rede municipal de saúde, como a falta de combustível para veículos conduzirem doentes necessitados, entre outras questões.


Na Ordem do Dia, foi desfiado um rosário de indicações, requerimentos de informações, projetos de leis — tratados de forma sumária, quase sem discussão e maiores informações para uma plateia que a tudo assistia, pacífica e mansamente.


Já no "segundo grande expediente", também seguindo uma ordem de sorteio, alguns vereadores desta vez de manifestaram. Foi quando instalou-se um embate entre oposicionistas e governistas, estes em maioria.


Uma sucessiva "troca de farpas" fez o plenário despertar para um sortido repertório de acusações. De um lado, falou-se de "apadrinhados" na Prefeitura, que não trabalham e sobrecarregam os servidores dedicados. E que, portanto, deveriam dar lugar a funcionários de carreira concursados. Chamou-se de "demagógica" a medida tomada pelo Prefeito de reduzir seu salário em 42%, por Decreto, e não por força de Lei. Propugnou-se ainda pela gestão pública transparente e aberta às críticas.


Por outro lado, cobrou-se mais responsabilidade e maior engajamento dos vereadores nas ações da Prefeitura, que passa por (suposta) situação difícil para pagar em dia os salários e o 13º dos servidores. Tendo para isso, deixado de pagar até mesmo a fornecedores. E ainda elogiou-se a posição tomada pelo Ministério Público de embargar o último Concurso Público, pois com mais 3.600 novos funcionários o Município estaria (supostamente) inviabilizado, de vez.


Em meio a essa fuzilaria, uma breve e tímida lembrança quanto ao reajuste salarial dos servidores municipais. Um vereador governista lamentou a não chegada à Casa do "dissídio dos servidores" — sem explicitar o que fez ou faz para modificar essa situação.



Outro ponto, que serviu de epílogo à sessão, versou sobre a (suposta) perseguição que sofreriam os servidores na atual gestão. Nova troca de acusações se estabeleceu entre governistas e oposicionistas, sendo lembrado por um vereador atualmente governista que "no governo passado o servidor não podia sorrir nem durante o almoço".



Durante a sessão, já de início esvaziada, alguns se retiraram do plenário e da mesa, deixando ainda às moscas a Casa Legislativa, que mais uma vez virou às costas aos servidores públicos, sem tratar como prioridade o seu reajuste salarial anual.



Em resumo, o município foi brindado com uma sessão legislativa improdutiva e inoperante, que deixou de atender aos inúmeros problemas reais e de produzir leis em benefício de uma população carente de atenção de seus governantes.



Só a luta transforma a vida! 



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Conversando com versos (91): "Lágrimas de cera", de Raul Machado (1891-1954)





"Lágrimas de Cera”
Raul Machado



Quando Estela morreu, choravam tanto! 
Chovia tanto nessa madrugada! 
— Era o pranto dos seus, casado ao pranto 
Da Natureza — mãe desventurada! 

Ninguém podia ver-lhe o rosto santo, 
A fronte nívea, a pálpebra cerrada, 
Que não sentisse, logo, em cada canto 
Dos olhos, uma lágrima engastada! 

Ai! não credes, bem sei, porque não vistes! 
Mas quando ela morreu, chorava tudo! 
Até dois círios, lânguidos e tristes, 

Acendidos à sua cabeceira, 
Iam chorando, no seu pranto mudo, 
Um rosário de lágrimas de cera! 


Fonte: Internet. O Soneto narrativo. Sonetário Brasileiro.


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segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Mapa da corrupção




Por Frei Betto

Sabe-se que a colonização da América Latina por países europeus, em especial Espanha e Portugal, foi profundamente marcada por roubos, saques, extermínio dos povos originários, escravidão e ampla corrupção daqueles que, no Novo Mundo, gerenciavam os interesses dos colonizadores.

Na América Latina, a corrupção é um legado de nossa herança colonial. Somos herdeiros de uma tradição escravocrata, que deixou profundas sequelas em nossas estruturas e em nossos hábitos. Para sobreviverem ou alcançarem funções de poder, muitos recorriam a subornos, ao peculato e ao nepotismo.

Na tradição política da América Latina, os recursos públicos têm sido apropriados em função de interesses privados. A lógica do sistema capitalista favorece esse caldo de cultura ao considerar que os privilégios do capital devem estar acima dos interesses do trabalho. Prática que se estende à "corrupção” da natureza através da devastação ambiental.

Há, pois, em todo o mundo, e especialmente na América Latina, uma verdadeira oligarquia cleptocrática, para a qual a corrupção é um mecanismo intrínseco ao sistema de contratos, acordos, negócios e transações, principalmente na relação com o poder público. A cleptocracia é tanto mais facilitada quanto menos se conta com mecanismos de controle social do Estado e da administração pública.

Essa corrupção inerente ao nosso sistema político latino-americano corrobora para desacreditar as instituições políticas e viciar sempre mais os processos eleitorais. No Brasil, as empresas não votam mas ganham eleições...

Pesquisa da ONG Transparência Internacional, com sede em Berlim, divulgada em dezembro de 2013, apontou que Somália, Coreia do Norte e Afeganistão são os países onde há mais corrupção, enquanto Dinamarca e Nova Zelândia, seguidos de Luxemburgo, Canadá, Austrália, Holanda e Suíça se destacam como os países onde há mais transparência nas contas públicas.

Entre 177 países pesquisados, o Brasil figura em 72º lugar. Na América Latina, aparece como mais vulnerável à corrupção que Chile, Uruguai, Costa Rica e Cuba, entre outros. E menos que Argentina, Venezuela, Bolívia e Equador.

Dos países avaliados, em 70% há fortes indícios de que funcionários públicos são maleáveis a subornos.

A Venezuela aparece na lista como um dos países onde há mais corrupção (160º lugar), enquanto os mais transparentes são o Uruguai (19º) e o Chile (22º).

Finn Heinrich, coordenador da pesquisa, admite que a corrupção atinge, em primeiro lugar, os mais pobres: "Se você observa os últimos países da lista, os cidadãos mais pobres são os mais prejudicados. Iraque, Síria, Líbia, Sudão e Sudão do Sul, Chade, Guiné Equatorial, Guiné-Bissau, Haiti, Turcomenistão, Uzbequistão e Iêmen figuram entre os países nos quais grassa mais corrupção na administração pública e nas empresas privadas. A corrupção está muito relacionada a países em decomposição, como Líbia e Síria.” É o caso também do Afeganistão.




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Apesar de você


Por Otto Filgueiras

Os governos Dilma/Lula bem que plantaram. Agora estão colhendo.

Mas não como na música de Chico Buarque: Eu semeio o vento na minha cidade. Vou para a rua e bebo a tempestade.

É golpe, sim.

Como toda tentativa de golpe de direita, esse também tem em parte conteúdo fascista, no sentido da truculência. É golpe de novo tipo e que procura se desvincular do fascismo.

Mas o PSDB, que dirige a iniciativa, explorando os casos de corrupção na Petrobrás por meio de denúncias da mídia controlada pelos golpistas Mesquitas, Frias e Marinhos, faz jogo perigoso -  se não conseguir manipular os fascistas que querem a volta da ditadura militar, a pode situação fugir do controle.

É difícil, mas não impossível uma aventura dos facínoras de direita e os militares, por breve período, voltarem ao poder. E com a base social da classe média reacionária, localizada principalmente em São Paulo.

Mas também tem gente do povo, partidário no passado recente dos governos Dilma/Lula, quando ainda dava certo a política social-liberal, e que se voltou contra os petistas.

A extrema-direita, a mídia comercial, incluindo a Rede Globo de Televisão, os tucanos mais à direita e outros querem o golpe e o impeachment da presidente Dilma.

Estão inconformados com a vitória dela, são conservadores e autoritários, defendem a homofobia (com restrições localizadas de parte da mídia), querem a manutenção da reacionária lei do aborto e atribuem todas as mazelas da crise capitalista aos governos petistas e de comunistas de logotipo.

Os tucanos e essa gente se comportam como se as privatizações, a corrupção e o “livre mercado” dos tempos dos governos neoliberais de FHC não tivessem existido.

Quanta hipocrisia. Mas não é um golpe patrocinado pelo império dos Estados Unidos e igual ao de 1964.

Até que seria mais fácil para a esquerda revolucionária lutar contra os invasores, como fez o bravo povo do Vietnã e derrotou o poderio dos EUA.

O fim da ditadura implicou também na transição conservadora de Ernesto Geisel e muita gente da “esquerda” alega ter “lutado por essa democracia”, que não puniu torturadores, fez uma Comissão Nacional da Verdade de faz de conta, se alia aos facínoras torturadores da ditadura, diz que a mídia comercial e o PSDB articulam o golpe.

Pode até ser verdade, também.

Mas ainda tem gente que defende o governo Dilma/Lula e a elevação da taxa de juros Selic pelo Banco Central como medida para evitar a investida da direita.

O limitado decreto da presidente sobre conselhos populares para a participação social foi derrubado pela Câmara Federal com apoio de deputados da sua base de aliada, em conluio com os tucanos.

A lei que regula os meios de comunicação também não será aprovada pelo conservador Congresso Nacional.

Parte importante dos que se deixaram cooptar pelo governo Dilma/Lula insiste que esse é um problema da contradição da dita “governabilidade”. Não há no horizonte saída de centro para a crise.

Dilma está numa encruzilhada. Pode fazer um governo de esquerda, deixar de cevar banqueiros e se convencer que findaram os tempos da política de agradar gregos e troianos. E adotar uma gestão pelo menos de centro-esquerda, com trombadas nos mais reacionários, tipo os Bolsonaros. Ou será acuada pela direita que apoia ou apoiava o seu governo social-liberal, e cessará a defesa do seu mandato pela esquerda do PT, CUT, comunistas de logotipo mais combativos e os movimentos sociais à esquerda.

O apoio ao governo pelos grandes grupos capitalistas nacionais e internacionais era providencial e fazia o governo federal manter as rédeas no povo.

Agora tudo depende da evolução da crise econômica, de o PIB voltar a crescer para além do voo de galinha.

Afinal, essa gente não se importa com a roubalheira (até a incentiva), com a violência urbana, a matança de pobres e negros nas periferias, com golpes e desestabilização de governos legalmente eleitos.

O único compromisso do capitalismo tupiniquim e internacional é com o lucro fácil à custa da exploração cada vez mais brutal de mulheres e homens trabalhadores.

O capitalismo é inviável, anárquico e ele mesmo provoca crises, sempre de superprodução, destrói os concorrentes, incentiva guerras, causa desemprego e mais violência.

Apesar disso, o seu o dia, dos facínoras antigos e novos, chegará, e o amanhã, talvez socialista, há de ser outro dia.




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